sexta-feira, 4 de julho de 2008

Festas de São Pedro

Todos os narizes me cansam. Nascem de bocados de ar na cabeça. Passeio por aí e as testas femininas só me lembram portões baixos: servem apenas para impressionar, qualquer um passa por eles. Os olhos, todos os olhos me cansam. Deviam ser pedras sensuais, distinguem-se dos das bonecas pelo brilho, mas os que vejo pelas festas vêm da calçada que piso. Tu atiras
- Vamos ali aos carrinhos de choque
mas eu quero ir com alguém feito com menos pressa. Um cabelo feito à mão, cada fio com a curva para onde tombava o capricho e não todos a seguir os das outras pessoas. Uma cara que me toque, porque isso adormece-me (olha, um choque sem carrinho). Mais sinceridade nessa aparência toda, e para ti. Um bocado dela faz logo efeito na ponta dos sorrisos. Eu também normalmente em vez de sorrir, olho, em vez de tocar, imagino, em vez de falar, escrevo, até em vez de amar, penso. Assim ninguém sabe nada sobre mim, não tem nenhum lugar doloroso por onde pegar. Um bocado ridículo. “Um dia, depois de não-sei-quê, alguém passa a existir”, penso nesses sítios cheios de barulho e de luzes, mas tenho de a ajudar mais. Pelo menos para não me aborrecer e acabar por mirrar numa dessas estranhas criaturas que habita as festas de São Pedro.
 
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