quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

R2

Ele – Como faz falta… - ao que ela inusitadamente interrompe, bruta – Quero fogo, quero sangue, quero raiva! – Ele lá continua – …o fumo seco a cheirar a fumo seco, gente familiar à vista desde os cinco… – Quero luta, quero ter fome até aos pulmões! Gritar até estoirar as cordas, matar ou ser morta! – E ele sem tomar atenção continuava - …o abraço e o colo, sorrisos e bofetadas e as persianas puxadas todas até cima… – ela rude e em pranto histérico – Diz o que quiseres à polícia, expulsa-me ou viola-me, corta-me até não sentir. E o vosso pobre e velho narrador que já só escreve para tentar reviver outrora quando gostava de escrever, assiste a toda esta dialéctica, pasmo. E ele -...dos portões pequenos e coisinhas feitas de pedra, ser grande ao pé dos grandes… - Por favor, dá-me tecto que eu piso-o, espadas que eu esventro-as, dá-mo algo e eu agarro-me! - …como faz falta não perceber e não haver problema, estar bem com o que não se explica…- Dá-me ferro p’ra espancar, quero esticar até partir, pensar p’ra não sentir! – e ele já exausto - …como faz falta um candeeiro ou uma estante – ela morta de sentir, com os seus olhos a latejarem já nem consegue gritar – Só quero…deixar de querer – ele olha-a, abraçando-a murmura -…como faz falta nada fazer falta.
 
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 2.5 Portugal License.