quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Como combater a solidão

Sorri constantemente.
Não faças apenas o que os outros dizem querer, pois eles mentem para te agradar. Faz também o que eles querem e escondem com olhares para o chão. Fá-lo com um sorriso de boneco. Abraça quem te censura, mas porque os adoras. Reprime os sonhos para teres tempo de ser mais outros e menos tu. Aceita o nada...
Sê físico.
Durante um passeio, abana amoreiras, carros e postes de rua para ver se ainda és forte. Logo que o veneno das ideias ataque, responde com um sprint. Exausta-te até não teres respiração criativa. Foge para o vazio...
Não te reconheças.
Faz a tabuada de cabeça até te esqueceres que não és uma calculadora. Ralha-te pelos desejos só teus, as pontas coloridas, mas não te ames pela tua igualdade, ama a igualdade de todos como todos a amam. Esmaga as pontas com a humilhação, mas faz isso sozinho se faz favor, não queremos cenas. Chora por teres um corpo aparte da multidão. Chora!
Mente.
Mente até teres de te afastar para veres que a mentira é maior que a tua vida. Até que dizer a verdade te deixe desconfortável contigo próprio. Até que os sentimentos e as suas chamas se substituam por palavras e gestos falsificados. As tuas pequenas traições entre mente e corpo do passado são agora sinal de que estás bem concentrado. Concentrado no errado.
Se tiver que ser, masturba-te.
Se fores assim tão fraco, e nós duvidamos que não o sejas, toca-te e imagina uma sombra do que te apetecer imaginar enquanto o fazes. Como descobrir esse limite? Assim que comeces a pensar que não está extremamente errado o que estás a fazer, pára e arrepende-te. Depois, convence-te que tiveste um breve delírio por não praticares as ordens sãs que te transmitimos aqui. Troca o orgasmo por uma profunda e imensa auto-repreensão.
Insere-te num grupo desinteressante.
Não te faças demasiado amigo, a quantidade do sentimento também é perigosa. Regula-o sempre até ao que não der nas vistas, ou menos ainda. Ri-te por qualquer coisa não completamente formal e séria que digam, e bate na mesa ao fazê-lo, para confirmares que realmente continuas forte! Diz apenas banalidades descartáveis. Não olhes nos olhos deles (é mais difícil viver assim e olhar nos olhos).

No final da peça não faças vénias: não és o actor, és a personagem! Esquece que aprendeste isto e lembra-te apenas: não és, são-te.
Todos te iremos aceitar. Todos nós.
 
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