quarta-feira, 12 de março de 2008

Momento

(…)

.Parei.

Os meus olhos abertos espelhavam uma imagem que me tocou. Vi um pobre homem manco, com dois ou três trapos vestidos, barbas mal aparadas e uns sacos de plástico na mão direita. O sol estava prestes a desaparecer o que enfatizava aquela "fotografia" que vi. Este ser, estava parado, parado como quem não sonha. Fitou-me. Desse olhar, não me esqueci. Um olhar que disparava mil e um sentimentos que trepavam sobre mim encurralando-me. Vi nesse olhar uma bomba prestes a explodir e ao mesmo tempo uma paz contagiante. Vi lágrimas prestes a escorrer e uma luz que iluminava aquele momento. Vi um pobre diabo que se esconde atrás da máscara. Vi um grande vazio mal aproveitado. Vi o degredo.
Não vi o medo de morrer nem o gosto de viver.
Não vi sonhos nem esperanças
Vi a dor que nunca senti.


.continuei.



terça-feira, 11 de março de 2008

Vieram os 3 e analisaram o palhaço

"Seus trajes pouco normais lembram o comum. Nariz vermelho ou arroxeado da cirrose e uma palidez cadavérica. Maquilhagem de prostituta barata em fase decadente, e pés tão grandes que mal se consegue mover. Tão engraçado. Molha-me por completo enquanto guincha, de pronuncia rude e aguda. Na maioria das vezes cai propositadamente, e aleija-se! Continua bastante alegre a molhar-me. Ás vezes insulta gente. Provoca riso. Não tem, de facto, jeito para nada. Talvez seja esse o jeito dele. Ainda assim, não parece. Já ninguém lhe dá atenção, ainda tenta clamá-la com habilidades inúteis e sabotadas."
por "Alguém"



"Talvez do menos transparente que já vi. É mesmo falso. Incomoda mesmo é a forma como comunica, tão remanescente á infantilidade...que desejo ou possuo. É talvez com inveja que forço um sorriso. Inveja da maneira verosímil como falsifica uma felicidade. Torna-a indubitavelmente autêntica. É como ele que sonho ser. Pelo menos agora, neste momento. Já fui assim, em tempos...não, eu ainda sou assim. Restos de mim são, disso tenho a certeza. Sou verdadeiro, sou infeliz."
por "Outrém"




"É com agrado que observo os seus movimentos. É interessante a maneira como abraça o desconhecido. Claro que nunca o faria! Ainda assim acho louvável. Entretém tão bem o sr. Irracional. E ele que precisa tanto, já não é o que era.
Tudo o que o Pézudo faz parece estar inconsequentemente certo. Talvez pálido, mas correcto. Tão hábil e trapalhão. Que plateia enorme para o ver, eu quero ficar na primeira fila! Até logo.."
por "Uma Pessoa"

terça-feira, 4 de março de 2008

As palavras

Palavras... De nada valem, para nada servem e nada dizem.
Não passam de meros vocábulos, interligados e pronunciados friamente pela maioria das pessoas.
As palavras são comandadas pela cabeça e pelo pensamento. Ninguém fala com o coração.
São cépticas, passageiras e vazias.
Eu falo, tu falas. Todos falamos... Mas ninguém diz o que pensa, o que quer ou o que pode. Estamos calados.
Tu olhas, eu olho. Sei perfeitamente o que estás a dizer, estás em silêncio, neste momento as palavras de nada servem. Observo e interpreto. Sim, não tenho certezas. Mas basta-me. Afinal, ninguém vive só de coisas concretas.
Falar é bom! O diálogo é importante, sim. Mas o silêncio é perfeito. Tem todas as respostas e tudo o que precisas e procuras.
Não esperes pelo que queres ouvir, pois esse dia nunca chegará. Observa, em silêncio. Escuta-te a ti mesmo. Não fales. Consegues sentir?
O silêncio grita, as palavras calam.

Texto escrito pela Telma e está bastante bom, não acham?

Fica sempre tanto por te dizer (a ninguém em especial)

Deve-te parecer tudo porcelana sem nada lá dentro, sem ti, sem flores e sem risos, nem sequer mistérios, apenas umas formas cor de porcelana por pintar que te vão mostrando que o tempo passa. Passa aos tropeções por esses brancos sólidos e até agradeces vagamente, nem sequer moves os olhos da tua mente pasmada num entorpecimento oco, tal é a tua determinação em que fique tudo como sempre te foi. E como podes tomar consciência que podes acordar se no final dos teus sonhos voltas a adormecer? Lês e entendes aqui que és o único que se importa com a tua vida, e assim deixas de estar paralisado nesse equilíbrio de forças ridículas e inócuas que é o narcisismo e a humilhação. É que se ao menos olhasses para o monte de cacos que deixaste para trás, se soubesses o que eles suportaram delicadamente para ti, se desejar não fosse tão inútil e tu realmente o soubesses em vez de apenas o desejares, talvez aí tentar não seria tão difícil nem viver seria tão estranho. Deixarias de ser uma porcelana sem nada lá dentro, sem ti, sem flores e sem risos, nem sequer mistérios, apenas cobardia.

Texto feito há algum tempo mas ainda gosto dele

A minha relação com Deus

Era uma vez Deus todo-poderoso, benevolente, omnisciente e omnipresente. Foi recordado para a posteridade como um ambiente diferente que apareceu e desapareceu, uma mudança no ar e nos sentimentos das pessoas, na cor e no futuro, que nunca mais voltou, em parte por culpa de nunca ter vindo. Quem me disse isso foi a parte lógica de mim mesmo, ao reparar que se tal existisse não haveria sofrimento.

Fiquei sozinho então, a história passou a ser sobre mim e não Deus, sugeriram-me uma ilusão e recusei-a, arrogante como os outros. Sozinho observo o silêncio e sozinho com a ajuda da lógica mas sem os misticismos da ilusão tentei descobrir o que havia para descobrir. Descobri-me a mim, imperfeito, limitado, tão diferente de Deus, cego. Não consigo ver, não sei o que há para além de mim e não desenvolvo amores platónicos nem sou homem de preconceitos, sou agnóstico. A minha relação com Deus é condicionada pela verdade, que é quase tão desesperante e sufocante como a ilusão. Resto-me a mim para me governar, com os meus sentimentos e impulsos, inimigos e o acaso, neste mundo normal, nesta história que não acaba depois de Deus e que não sei se acaba depois de mim.

Texto feito numa aula de Português de Décimo Ano.

 
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