terça-feira, 4 de março de 2008

A minha relação com Deus

Era uma vez Deus todo-poderoso, benevolente, omnisciente e omnipresente. Foi recordado para a posteridade como um ambiente diferente que apareceu e desapareceu, uma mudança no ar e nos sentimentos das pessoas, na cor e no futuro, que nunca mais voltou, em parte por culpa de nunca ter vindo. Quem me disse isso foi a parte lógica de mim mesmo, ao reparar que se tal existisse não haveria sofrimento.

Fiquei sozinho então, a história passou a ser sobre mim e não Deus, sugeriram-me uma ilusão e recusei-a, arrogante como os outros. Sozinho observo o silêncio e sozinho com a ajuda da lógica mas sem os misticismos da ilusão tentei descobrir o que havia para descobrir. Descobri-me a mim, imperfeito, limitado, tão diferente de Deus, cego. Não consigo ver, não sei o que há para além de mim e não desenvolvo amores platónicos nem sou homem de preconceitos, sou agnóstico. A minha relação com Deus é condicionada pela verdade, que é quase tão desesperante e sufocante como a ilusão. Resto-me a mim para me governar, com os meus sentimentos e impulsos, inimigos e o acaso, neste mundo normal, nesta história que não acaba depois de Deus e que não sei se acaba depois de mim.

Texto feito numa aula de Português de Décimo Ano.

1 comentário:

helena antonio disse...

"A minha relação com Deus é condicionada pela verdade, que é quase tão desesperante e sufocante como a ilusão." Continuo a achar este texto brilhante! A tua prof. do 10º

 
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