Acorda. Na verdade, já estava acordado havia algum tempo. Não dormiu. No entanto, fingia inconscientemente acordar depois de uma bela noite de sono tranquilo. Dirige-se à casa de banho na sua felicidade fúnebre. Adorava dar a ideia que era feliz. Fazia-o bem, de facto. Moroso liga a torneira fazendo-a cuspir jactos de água castanha já habituada aos canos. Contente por controlar um dos quatro elementos, faz com que o líquido ferva. Enevoando assim, o cubículo. Agora sim, pode olhar-se ao espelho. Vê o seu reflexo estropiado, tal como gosta. Parece perfeito. Sorri. Vê o que ele imagina serem os seus dentes aparecerem no sítio que parece ser a sua boca. Disforme, mas óptimo. Sai. Veste-se.
Já fora de casa depara-se com uma clareza agoniante. Mais uma vez, disfarça alegria. Mas o sol designativo de Verão entorpece-lhe o pensamento. O céu está mais azul que nunca. E ele, ele está a ver perfeitamente. Numa inopina ideia, sente-se tentado a dirigir-se para a zona industrial, onde escombro o ajudaria. Mas para quê? Para tomar consciência que ainda sabia o caminho? Iria ouvir pessoas até lá. Iria ouvir as conversas que detestava e os sons insersíveis. Deixou-se estar. Podia voltar para casa, mas o espelho não iria ficar para sempre embaciado e o poder do sono não o iria derrotar tampouco. Estava na atura de se resignar. Assim o faria.
Acorda. Dormiu que nem uma rocha, sereno, desinquietado, preso a uma nova concepção de liberdade. Espera-o mais um dia sem fumo ou nevoeiro.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
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