segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Verdade

Enquanto caminhava pela rua da Igreja vi os doidos com os seus coletes de forças a serem empurrados magicamente até à grande parede branca. Vi os doidos a pensarem ter visto cores, desviei a cara porque os doidos me entristecem. Vejo-os desde sempre, a contagiar loucura enquanto esfregam as suas feridas abertas em corpos diferentes, com alegria, de propósito. Parece-me que são resistentes a todos os observadores, protegidos pela pedra sagrada à prova de falas. Perguntei-me sempre se, logo depois de levar com o peso de cada um dos seus murmúrios, desabaria. Quer dizer, quão desesperado está um ser humano que vai tentar o poder da parede mais próxima? Uma parede imponente, inocente e indiferente... uma normal parede.
E eu não sabia que os doidos rosnam até ter pedido sanidade a um deles. Rosnam, cospem-me, mentem-se, sorriem, às vezes só tentam ser sãos, entristecem-me. Não é que eu também não seja doido, não é que alguém o seja sem esse direito, mas porque é que esses iguais (para mim são iguais), nos seus rodopios delirantes em que a parede se torna um omnipresente muro branco, não param, não se viram para mim e me pedem ajuda? Com toda a minha arrogância eu ajudo, mas ajudo.

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